Crítica: Um Homem Fiel

Crítica: Um Homem Fiel

Corações em trânsito

Critica Um Homem Fiel

Filho do cineasta Philippe Garrel, um dos herdeiros da Nouvelle Vague, Louis Garrel senta pela segunda vez na cadeira de diretor de um longa-metragem com este Um Homem Fiel. O filme segue uma linha bastante parecida com sua estreia na função, Dois Amigos, mas vai num tom mais morno, sem grandes rompantes cômicos ou momentos de drama intenso.

Se na obra anterior Garrel tratou de dois amigos disputando o amor de uma imigrante árabe (interpretada pela iraniana Golshifteh Farahani, sua então namorada na vida real), aqui ele aparece como Abel, um sujeito que logo na primeira cena é abandonado pela parceira Marianne (Laetitia Casta, sua atual esposa do lado de cá da tela), grávida do melhor amigo dele.

O roteiro dá então um salto no tempo de oito anos para a história começar de fato. Abel e Marianne se reaproximam quando o tal melhor amigo morre, deixando um filho criança e uma irmã platonicamente apaixonada pelo personagem de Garrel desde a adolescência, Ève (Lily Rose-Depp).

Um Homem Fiel dá voz aos três vértices desse triângulo amoroso, com narrações em off que permitem saber um pouco mais sobre o ponto de vista de cada um. Se, num primeiro momento, o filme parece que será sobre a guerra de duas mulheres pela atenção do galã, há em jogo algo além disso.

Marianne, que trabalha no cenário político francês, mostra-se uma hábil manipuladora. Já Ève sofre por ver que a realização do seu desejo pode não ser tão romântica como imaginava. 

No meio delas, Abel vaga para lá e para cá como um cão sem dono, incapaz de tomar as rédeas de sua vida sentimental e justamente essa fragilidade em lidar com as questões afetivas que parece interessar Garrel enquanto autor, traço que tem em comum com o pai. Mas, pelo menos nesse filme, falta profundidade para oferecer um olhar mais íntimo dos conflitos daquelas pessoas.

Há somente alguns vislumbres, como quando Ève e Abel debatem sobre a possibilidade de, num futuro próximo, a expectativa de vida dos humanos passar a ser de até 120 anos. “O problema é que não sabemos como vamos fazer para pagar as asposentadorias”, reflete ele. “Nem fazer o amor durar”, responde a garota. “Mas se nos enganarmos, teremos mais tempo de mudar de ideia”, é a tréplica. Para quem gosta de pensar em como o amor pode se tornar transitório, Um Homem Fiel arrisca uma espiadela.

Diego Olivares

Crítico de cinema, roteirista e diretor. Pós-graduado em Jornalismo Cultural. Além do Cinematecando, é colunista do Yahoo! Brasil