Crítica: Valerian e a Cidade dos Mil Planetas

Crítica: Valerian e a Cidade dos Mil Planetas

Valerian é uma série de quadrinhos francesa que fez sucesso a partir da década de 60. Na verdade, fez muito sucesso, pois ela até serviu de inspiração para George Lucas criar uma das sagas intergaláticas mais famosas de todos os tempos: Star Wars! Sim, acredite; George Lucas pegou emprestado um detalhe aqui e ali para criar a história de Luke Skywalker. Portanto, é justo dizer que Valerian representa uma história que não é lembrada da maneira que merece. Mas isso está prestes a mudar.

Luc Besson (diretor de filmes como O Profissional, O Quinto Elemento e Lucy) cresceu lendo as histórias de Valerian e Laureline e sempre quis dar vida a pelo menos uma delas. No fim, acabou sendo o diretor perfeito para o projeto. Atento aos mínimos detalhes e dono de um extremo bom gosto visual, Besson deu à Valerian a cara que aquele universo precisava: vívido, marcante e impressionante. A clareza visual de seu novo filme impressiona de um modo que, felizmente, não se assemelha tanto com Star Wars. Valerian e a Cidade dos Mil Planetas, adaptação da HQ Valerian: O Agente Espaço-Temporal, possui um clima único, que conquista logo em seus primeiros minutos.

Você deve estar achando estranho que eu já comecei falando sobre o visual do longa, não? Como disse, Luc Besson prioriza a identidade visual acima de qualquer coisa em seus filmes – até mesmo acima da narrativa em alguns casos. É possível ver isso em Valerian, mas não é algo tão problemático quanto parece. O filme tem uma trama simples, sem nada de espetacular, mas também não se torna aquele tipo de história que faz com que o espectador se sinta um bobo, enganado com tantos truques cinematográficos.

A história prende a atenção. Somos apresentados a Valerian (Dane DeHaan) um jovem agente que salva a galáxia de criminosos junto de sua parceira Laureline (Cara Delevingne), por quem é apaixonado (mas que não sabe como demonstrar de uma maneira convincente). A nova missão deles se torna muito maior do que jamais podiam imaginar: a civilização de um planeta que foi apagado do sistema pelo governo voltou, e agora cabe aos dois jovens trabalharem em conjunto para descobrir o que (e quem) está por trás desse mistério.

A esperteza de ambos é o que já chama atenção logo de início, mas é surpreendente (de um modo bem positivo) ver que quem possui mais destaque é Laureline com sua personalidade forte e cheia de determinação. Não que isso tenha que ser encarado como algo novo, mas depois de um tempo ela se sobressai com relação ao seu parceiro – que, por ser homem e o “líder”, sempre quer tomar as rédeas das missões. O mais irônico é o fato do personagem de DeHaan (que ganha total destaque no título) não convencer tanto quanto a personagem de Delevingne, por mais que o ator se esforce em parecer descontraído o tempo todo. No todo, é agradável ver os dois dividindo as cenas, mas é ainda melhor ver a jovem mergulhar no papel de um modo tão cativante. Arrisco dizer que esse é o primeiro acerto de Cara no cinema, pois Esquadrão Suicida e Cidades de Papel não a fizeram brilhar dessa maneira.

A trilha sonora de Alexandre Desplat (vencedor do Oscar pela trilha de O Grande Hotel Budapeste) brilha e dá o tom certo para a trama. E ainda sobre o visual, é incrível como somos introduzidos àquele universo tão facilmente. A cada ambiente apresentado, vemos mais um punhado do talento de Besson, aliado à grandiosidade da imaginação dos escritores da HQ. O grande destaque fica para o Grande Mercado que se encontra em outra dimensão (e que é o palco para uma das melhores sequências de ação do filme). Mas nada supera a majestosa introdução do Planeta Mül, onde, por mais ou menos 10/15 minutos, somos inseridos a uma “sub-trama” que acaba por ser o verdadeiro centro da história.

A participação de Rihanna em Valerian e a Cidade dos Mil Planetas se encaixa bem ao que o protagonista precisa fazer e não deixa de ser bem descontraída, por mais que as sequências em que aparece (e algumas outras do filme) não tenham absolutamente nenhuma ligação com o propósito do enredo. Em momentos como esse, fica clara a intenção de Besson em entreter o espectador com distrações dentro da própria história. A contraposição da ação com uma breve “pausa” na narrativa é percebida com facilidade e tira um pouco do ritmo, mas no fim, não prejudica o quadro geral.

Em suas duas horas de duração, Valerian e a Cidade dos Mil Planetas é um espetáculo visual que apresenta ao grande público o universo que influenciou Star Wars. O mais curioso é que não vemos tantas referências a SW como é possível ver nos quadrinhos, fato este que torna Valerian uma obra diferente, mas que possui aquele toque familiar que deixa tudo mais agradável. A cultura pop tem muito o que a agradecer a Jean-Claude Mézières, Pierre Christin e Évelyne Tranlé.

FICHA TÉCNICA
Direção:
 Luc Besson
Roteiro: Luc Besson,  Jean-Claude Mézières, Pierre Christin
Elenco: Alain Chabat, Alexandre Nguyen, Cara Delevingne, Clive Owen, Dane DeHaan, Emilie Livingston, Ethan Hawke, John Goodman, Kris Wu, Mathieu Kassovitz, Rihanna, Rutger Hauer, Sam Spruell
Produção: Luc Besson
Fotografia: Thierry Arbogast
Montador: Julien Rey
Trilha Sonora: Alexandre Desplat
Duração: 129 min.

Barbara Demerov