Crítica: Vende-se Esta Casa
Netflix erra feio em thriller com história pobre, enredo caótico e personagens levianos
A nossa querida Netflix não é infalível. Isso não é novidade, uma vez que de meses em meses sempre vemos alguma série ou filme original da distribuidora/produtora que decepciona muitos espectadores. Aparentemente, o primeiro grande deslize do serviço de streaming em 2018 é o thriller de suspense americano Vende-se Esta Casa, escrito e dirigido pelo casal Matt Angel e Suzanne Coote.
Após a morte do pai, o adolescente Logan Wallace (Dylan Minnette) e sua mãe, Naomi Wallace (Piercey Dalton), se mudam temporariamente para uma casa à venda, buscando superar o trauma familiar. Eles precisam apenas organizar um dia de “portas abertas” para acolher potenciais compradores do imóvel. Depois deste evento, Logan e Naomi começam a perceber presenças estranhas dentro da casa.
Como um grande fã de suspenses, admito que me interessei pela promissora sinopse, mas se eu tivesse uma bolinha de cristal e pudesse prever o futuro, não teria investido mais de 90 minutos de minha vida em uma produção tão mal resolvida e preguiçosa como essa. Existem filmes em que o roteiro simplesmente nos apresenta os pedaços do quebra-cabeça e nos deixa criar as ligações por nós mesmos, com nossas interpretações. É o caso de Mãe! (2017) ou do nacional Lamparina da Aurora (2017). Porém, há também filmes que pegam esses pedaços de quebra-cabeça, cortam em um milhão de pedacinhos, e os atiram em uma enorme fogueira de desgosto e displicência. É definitivamente o caso de Vende-se Esta Casa.
O roteiro nos coloca em uma situação desfavorecida ao tentar acompanhar a relação de Logan com sua mãe. Não conseguimos entender muitas de suas motivações, e o luto pelo que estão passando não é abordado de maneira satisfatória. Alguns personagens secundários atiçam nossa curiosidade, mas não o suficiente para prender nossa atenção – é o caso de Martha (Patricia Bethune) e Chris (Sharif Atkins), que mesmo com as boas atuações de Patricia e Sharif, perdem-se pela falta de carinho do roteiro para com seus diálogos e ações.
Outra boa interpretação, possivelmente a mais forte presente no filme, é a de Piercey Dalton, como Naomi. A atriz transmite bem a preocupação e insatisfação de uma mãe viúva, fazendo com que sua personagem não desapareça em cena, e muitas vezes até supere a presença de cena do protagonista. Sim, finalmente chegamos em um dos maiores problemas do filme: o protagonista. Além de ter uma personalidade muito mal elaborada, suas ações não convencem e seu intérprete não ajuda nem um pouco, caracterizando uma das piores atuações da carreira de Dylan Minnette, de 13 Reasons Why, (que se saiu muito melhor interpretando Alex no aclamado O Homem nas Trevas, um dos melhores thrillers de 2016).
Claramente um dos únicos aspectos interessantes do filme é a direção de fotografia de Filip Vandewal, que com alguns envolventes movimentos de câmera, não permite que o ritmo arrastado e sem criatividade do roteiro se torne insuportável aos olhos do espectador. Os enquadramentos agradam e não criam confusão, pois de desorganizado já basta o enredo. A direção de arte também não decepciona, trazendo ótimos cenários (externos e internos), com um apelo às cores frias. Porém, devo dizer que a montagem da obra não é atrativa, pois deixa a impressão de um ritmo acelerado forçado, sem permitir que alguns bons planos falem por mais tempo em tela, talvez com a pressão de dar algum dinamismo a uma narrativa tão tediosa.
A trilha sonora também não aparece, sendo que este deveria ser um dos maiores responsáveis pela criação da tensão e do desespero dos personagens, que se refletem nas emoções do público. É com todos esses erros que Vende-se Esta Casa se mostra um filme dispensável, fraco, com um roteiro embrulhado capaz de angustiar qualquer espectador. Não foge o pensamento de que a produção conta com ótimas paisagens e uma casa com muito potencial, mas que é extremamente mal percorrida pelo roteiro do filme. Um filme para se evitar.
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