Crítica: Verónica
Filme de terror dirigido pelo espanhol Paco Plaza é lançado na Netflix e impressiona com boas doses de tensão
Paco Plaza é um nome conhecido do cinema espanhol de gênero. Responsável, ao lado de Jaume Balagueró, pela rentável trilogia de terror REC, o diretor é experiente em causar tensão e medo em cenas com muita adrenalina (que, inclusive, é muito bem transmitida ao espectador). Em Verónica, seu novo filme, podemos notar a permanência do ritmo frenético idealizado em suas obras, de uma forma não tão intensa, porém mais artística e cuidadosa. Isso se deve ao fato de que, em seu novo filme, o diretor abandona a fiel “câmera na mão” (found footage) e dá lugar a câmera externa, que cria muito bem uma atmosfera aterrorizante com movimentos sugestivos e enquadramentos chamativos.
Madrid, década de 1990. Verónica (Sandra Escacena), uma jovem bonita e alegre de 15 anos, passa seus dias se revezando entre os cuidados de três irmãos mais novos e as brincadeiras com seus amigos adolescentes, já que sua mãe viúva (Ana Torrent) trabalha por longas horas diariamente. O que ela não imagina é que, após participar de uma sessão com um tabuleiro Ouija encontrado em sua escola, sua vida passará a ser terrivelmente atormentada.
Como o maior foco do filme é a condução de uma história baseada em fatos e nos aspectos assustadores, não sobra tempo ou justificativa para a exploração de todos os personagens. Quem atrai os olhares do espectador é somente a protagonista. Verónica é uma garota otimista e muito responsável, porém como qualquer adolescente, é cheia de dúvidas e anseios pela liberdade que não possui, uma vez que precisa cuidar de seus irmãos e da casa sozinha.
Essa liberdade se manifesta não apenas em sua atitude ousada em querer participar da sessão com o tabuleiro Ouija (com intenção de contatar seu falecido pai), mas também nas referências de fotos e pôsteres de músicos e bandas de rock (denotando uma rebeldia contida), além do próprio comercial da Centella, cantado por ela e seus irmãos. Os outros personagens são caricatos, mas salvos pela ótima interpretação dos atores, principalmente os mirins (embora a protagonista seja afetada pela falta de expressão da atriz).
A decupagem do diretor, ao lado do planejamento de elaboração da fotografia, resultam em um frequente uso de espelhos durante o filme, que “refletem” a ambiguidade e profundidade deste sensível drama de terror. O enredo apimenta a curiosidade do público plantando alguns elementos que causam dúvida, como o fato da protagonista ser louca ou de realmente estar passando por aqueles tormentos sobrenaturais. É deixada em todos os momentos uma intrigante (porém não tão forte) margem de interpretação para o espectador, que além de se deslumbrar com planos inteligentes, pode se divertir refletindo sobre a abordagem de drama dentro do terror proposto pelo roteiro.
O filme tem seus defeitos em pequenos detalhes, como a verossimilhança de certas atitudes da protagonista e de outras personagens. Não compromete, mas desanima um pouco a experiência. A atriz que interpreta Verónica, Sandra Escacena, deixa a desejar com sua interpretação pouco esforçada, que peca ao expor o desespero, a tristeza ou qualquer angústia sentida pela personagem. Mas por consequência (prevista ou não), essa interpretação seca e sem profundidade de certa forma auxilia na caracterização de uma personagem submissa às necessidades diárias de um cotidiano sem liberdades.
Verónica chega para agarrar a atenção dos fãs de um bom terror que mescla loucura psicológica e possessão demoníaca/espiritual. Paco Plaza prova seu talento mais uma vez, conduzindo seu público por uma história apavorante, mas também cheias de nuances dramáticas que se evidenciam no fatigante dia a dia e no rosto cansado dos personagens. Sem poder ser ouvida, sem ser valorizada e sem capacidade de mudar sua realidade, Verónica traz na existência de sua personagem traços de infelicidade sem razões para serem celebrados.
https://www.youtube.com/watch?v=GlalMcEiwZQ
FICHA TÉCNICA
Direção: Paco Plaza
Roteiro: Paco Plaza, Fernando Navarro
Elenco: Sandra Escacena, Bruna González, Claudia Placer, Iván Chavero, Ana Torrent, Consuelo Trujillo, Ángela Fabián, Carla Campra, Chema Adeva
Produção: María Angulo, Javier Carneros, Mar Ilundain, Enrique López Lavigne
Fotografia: Pablo Rosso
Montagem: Martí Roca
Música: Chucky Namanera
Gênero: Terror / Drama
Duração: 105 min.