Crítica: A Vigilante do Amanhã – Ghost in the Shell
Em 2009, o crítico Steve Biodrowski, do Cinefantastique, apontou Dragonball Evolution como o claro exemplo de que produtores ocidentais não deveriam se meter em obras asiáticas. Mas para a alegria dos entusiastas, ele estava errado. A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell é a adaptação hollywoodiana da animação japonesa de mesmo nome, dirigida por Mamoru Oshii, em 1995. Com Scarlett Johansson na linha de frente, o filme da Paramount Pictures aparece com o objetivo de se tornar um dos live-action mais memoráveis do intercâmbio cultural Estados Unidos/Japão.
Em um futuro não muito distante, a Major Mira Killian (Scarlett Johansson) se torna a primeira forma de vida dentro de um corpo robótico aperfeiçoado, na intenção de ser utilizada como arma. Em 2029, cyberterroristas são capazes de hackear e manipular mentes humanas sob seus interesses, e a equipe de Mira é a única capaz de combater a ameaça. Durante sua trajetória, a ciborgue é submetida a provações sobre seu passado, e precisa voltar às raízes para descobrir sua verdadeira identidade.
Já dá para começar derrubando paredes e paradigmas: Se você for ao cinema esperando uma adaptação fiel do anime, pode ser que sua reação seja negativa. Ao fim da cabine de imprensa organizada para jornalistas e influenciadores três dias antes da estreia oficial, quem assistiu o anime saiu do cinema coçando a cabeça. Por outro lado, quem reservou a animação original para depois ficou ainda mais empolgado com a ideia de assistí-la.
Os roteiristas Jonathan Herman e Jamie Moss utilizaram o universo cyberpunk de Ghost in the Shell para emular uma história própria, bem diferente do anime de 1995. Na versão original, feita com base no mangá de Masamune Shirow, a Major Motoko Kusanagi tem foco absoluto em sua missão contra o Mestre dos Fantoches. Há o questionamento sobre a veracidade de suas memórias, mas isso acontece de maneira filosófica, ainda utilizando diversas rimas visuais que contrastam com a poesia do momento.
Mira Killian (Johansson), por outro lado, parece perturbada sobre seu passado desde o começo do filme. Pode parecer um detalhe simples, mas possui um peso gigantesco no andamento da história. A personagem tem uma necessidade insaciável de resgatar sua humanidade, apesar de nunca ter sido tratada como uma máquina por qualquer outra pessoa além dela mesma.
Não se engane com a crítica, pois Scarlett Johansson faz um trabalho incrível no papel da Major. É evidente que a atriz se baseou ao máximo na Motoko Kusanagi original para compor sua personagem. O lendário ator japonês Takeshi Kitano também é um espetáculo à parte em sua interpretação como Chefe Aramaki, e Pilou Asbæk não poderia ser um Batou mais convincente. Em contrapartida, todos os personagens criados especialmente para a animação deixam a desejar.
Tá, mas por que as pessoas estariam esperando algo fidedigno ao anime se a intenção é adaptar o filme para o ocidente? Talvez por conta da série de trailers divulgados pela Paramount, sempre referenciando a obra original. É possível comparar cenas e apontar que o estúdio nem precisou fazer storyboard em alguns momentos… e isso é simplesmente incrível. Não tem como não se empolgar. Afinal, a ambientação do futuro cyberpunk distópico caiu como uma luva na adaptação. E ainda podemos reconhecer a visão dos anos 80 sobre como seria o mundo em 2029 – bem diferente dos filmes futuristas da atualidade, que estão cada vez menos ousados.
A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell continua sendo um filme decente, mas que precisava beber mais dos elementos filosóficos do anime. Se você não assistiu, ou não gostou, do filme original de 1995, pode ser que a história lhe toque de outra maneira. Este que vos fala – praticamente o setorista de animes e filmes orientais no Cinematecando – torceu o canto da boca enquanto os créditos subiam a tela ao som da trilha original.
FICHA TÉCNICA
Direção: Rupert Sanders
Roteiro: Jamie Moss, Jonathan Herman
Elenco: Chin Han, Chris Obi, Joseph Naufahu, Juliette Binoche, Michael Pitt, Michael Wincott, Peter Ferdinando, Pilou Asbæk, Rila Fukushima, Scarlett Johansson, Takeshi Kitano
Produção: Ari Arad, Avi Arad, Steven Paul
Fotografia: Jess Hall
Montador: Neil Smith
Trilha Sonora: Clint Mansell
Duração: 106 min.