Crítica: Zumbilândia – Atire Duas Vezes

Crítica: Zumbilândia – Atire Duas Vezes

Um retorno capenga

Zumbilândia - Atire Duas Vezes

Sucesso relativamente inesperado em 2009, Zumbilândia ganha uma sequência dez anos depois apostando no que deu certo no filme original: o entrosamento do elenco. O carismático Woody Harrelson volta ao papel do durão Tallahasse, enquanto Jesse Eisenberg e Emma Stone (desde então consagrada com um Oscar e outros prêmios) retomam o casal Columbus e Wichita. Do quarteto principal, apenas Abigail Breslin perdeu prestígio em Hollywood na última década, cada vez mais distante da garotinha de Pequena Miss Sunshine, o que se reflete em perda de tempo de tela para sua personagem, Little Rock.

O longa mantém o ritmo acelerado do primeiro, com as referências à cultura pop (os zumbis são divididos em categorias que vão do palerma Homer Simpson ao exterminador T-800) e as intervenções gráficas que sinalizam as regras criadas por Columbus. Também aparecem com destaque ícones do imaginário coletivo norte-americano, como Elvis Presley e a Casa Branca – chega até a ser estranho que, apesar de situar parte da ação na residência oficial do presidente dos EUA e fazer graça com praticamente tudo, não há nenhuma indireta à Donald Trump, alvo de milhares humoristas ao redor do mundo nos últimos anos.

Zumbilândia – Atire Duas Vezes não parece ter nenhuma preocupação em passar mensagens políticas ou ser politicamente correto. Chega até mesmo a parecer anacrônico, ao inserir no time de protagonistas uma patricinha no estereotipo “loira burra”. Nesse ponto a sensação de fato é que o filme ainda parou em 2009. Poderia até ser proposital, mas em nenhum momento o roteiro dá subsídios que sustentem essa teoria. A comunidade hippie e pacifista também é uma representação clichê, mas, diferente do que acontece com a garota, não vira o saco de pancadas para as piadas do roteiro.

Voltando ao universo que ajudou a criar, o diretor Ruben Fleischer (que ano passado assinou o fraco Venom) requenta a atmosfera da produção de 2009 e cria poucos momentos que se sobressaem. A honrosa exceção é um plano sequência de tirar o fôlego, no início da segunda metade. As aparições de Rosario Dawson, Luke Wilson e Thomas Middleditch de fato injetam ânimo novo na trama, mas seu impacto no desenrolar da narrativa é perto de zero, especialmente no caso da dupla de atores.

O que mais incomoda nessa continuação é que ela pouco se esforça para trazer algo original ao público. O clímax num espaço colorido, aberto e cheio de parafernálias é praticamente idêntico ao do primeiro filme, assim como a mensagem final de união pregada pelo personagem de Eisenberg no breve epílogo. Há inclusive uma tentativa de repetir a antológica participação de Bill Murray, agora numa cena entre os créditos. Sem o mesmo vigor e com a inteligência sensivelmente comprometida, Zumbilândia – Atire Duas Vezes está mais para uma cópia moribunda de algo que já foi mais cheio de vida.

Diego Olivares

Crítico de cinema, roteirista e diretor. Pós-graduado em Jornalismo Cultural. Além do Cinematecando, é colunista do Yahoo! Brasil