‘It: Capítulo Dois’ é ‘filme que gostaríamos de assistir’, dizem diretor e produtora
A continuação da adaptação de IT – A Coisa lançada nos cinemas há dois anos vem com a responsabilidade de dar sequência ao filme de terror com a maior bilheteria de todos os tempos entre as produções para maiores de 18 anos. Foram nada menos do que US$ 700 milhões arrecadados no mundo todo, cifra que a Warner pretende repetir com It: Capítulo Dois.
Pressão? O diretor argentino Andy Muschietti e sua irmã, a produtora Barbara, juram que não. “Eu acho que a expectativa dos fãs é algo que a gente nunca pôde chegar a considerar. Porque se ficarmos muito preocupado com o que as pessoas vão achar, isso pode nos paralisar”, afirma Barbara, em mesa redonda com jornalistas, durante passagem da dupla por São Paulo.
“Andy tinha uma visão muito clara do que ele queria fazer e nós simplesmente fizemos. E esperamos que o público goste. Fizemos o filme que gostaríamos de assistir, como foi na primeira parte”, continua. Seu irmão segue a mesma linha: “É um livro tão popular, tão cheio de acontecimentos, camadas e personagens, que cada um que lê gosta por motivos diferentes. Se você se apegar no que acha que as pessoas vão querer ver, você pode enlouquecer”.
O cineasta explica mais sobre quais eram os objetivos quando voltou à cadeira de direção, após o êxito da primeira parte. “Quis fazer um filme mais assustador, e também retomar o diálogo entre as duas linhas temporais. Quis aumentar os aspectos emocionais da história, trazer de volta algo que havia significado muito para mim quando li o livro, que foi a dinâmica entre o que se passa com os personagens quando adultos e quando crianças”.
“Jornada de aprendizado”
Em It: Capítulo Dois, os medos da infância se transformam em traumas, mantendo a camada psicológica que dita o tom do best-seller escrito por Stephen King. Para viver o Clube dos Atores, Muschietti recorreu a um elenco de peso, liderado pela trinca James McAvoy (como a versão adulta de Bill), Jessica Chastain (Sophie) e Bill Hader (Richie).
A diferença entre comandar um grupo de atores-mirins e outro com nomes já consagrados serviu de combustível extra para Andy. “Foi mais fácil dirigir o primeiro filme, mas o segundo foi mais divertido”, compara. “O primeiro foi mais fácil por conta das crianças, para elas tudo é como uma brincadeira. Mas é claro que quando a gente tem um elenco principal de sete adultos é algo mais estimulante, no sentido de eu ter que explicar os motivos de cada coisa que fazemos. Todo ensaio começava comigo explicando o que é importante na cena, do contrário eles me encheriam de perguntas”.
“Essa é uma jornada de aprendizado, enquanto diretor: você tem que se assegurar que eles saibam que você tem certeza do que está fazendo”, prossegue. “Mesmo quando você está fazendo algumas coisas de forma instintiva, você tem que saber usar as palavras certas para justificar de forma racional para os atores”.
Na hora de dirigir McAvoy, Chastain, Hader e companhia, o diretor não pôde usar uma das artimanhas de bastidores extensamente noticiada na época da estreia do capítulo um. Se, ao rodar o longa anterior, as crianças tiveram o primeiro contato com o palhaço em Pennywise apenas quando gravaram uma cena com a criatura, dessa vez a coisa foi diferente. Esse impacto teve que ser criado na atuação.
Ainda assim, Barbara garante que ver ter o palhaço no set ainda pode ser algo tenso, mesmo sabendo que é tudo faz de conta. “O efeito de ver Bill [Skarsgaard] com aquele figurino é intimidante”, diz a produtora. “E ele às vezes esquece que está caracterizado como o personagem e começa a conversar com você sobre pedir uma pizza. Isso é bem assustador. Os atores são todos muito habilidosos por si só, mas eles têm um reforço visual muito grande quando veem aquela imagem”.
“Mestre de seu ofício”
It: Capítulo Dois chega aos cinemas com 2 horas e 49 minutos de duração, mas, se dependesse de Andy, poderia ser muito mais. O primeiro corte ficou próximo de quatro horas, e ele lamenta ter deixado parte disso na ilha da edição. Tanto que ainda pensa num jeito de levar essas cenas deletadas ao público.
“Estamos agora discutindo algumas ideias”, revela. “Uma delas que gosto bastante é fazer um supercorte com os dois filmes juntos, para que as pessoas possam assistir em casa, ou, para quem for corajoso o suficiente, ir ao cinema e assistir a sete horas de ação ininterrupta”
Além das cenas que teve que cortar, com dor no coração, há pelo menos duas que Andy diz querer gravar ainda para incluir nesta versão alternativa. “Ele não termina nunca”, suspira sua irmã, arrancando risadas dos jornalistas, e também de Andy.
Durante toda a conversa, é notável a dinâmica irmão-irmã entre a dupla, com direito a um puxão de orelha de Barbara no caçula, que se balançava perigosamente inclinando a cadeira para trás enquanto respondia às perguntas. É uma relação de proteção, mas também de orgulho, como a última fala dela deixa claro.
“Ele é a pessoa que mais amo no mundo, meu irmão mais novo, isso nunca vai mudar”, derrete-se. “Mas estamos trabalhando juntos há vinte anos e esse projeto foi tão grande, com tantos aspectos complicados envolvidos, que nos tornamos melhor em nos comunicarmos. Houve um pouco menos de gritaria, e um pouco mais de entendimento. Eu cresci muito como produtora e, ao ver Andy trabalhar nesse filme, acho que ele se tornou um mestre de seu ofício.”