Rebobinando: Sintonia de Amor (1993)

Rebobinando: Sintonia de Amor (1993)

Uma das melhores sensações que um fã de cinema pode sentir é explorar um aplicativo chamado Netflix e acabar encontrando uma pequena pérola despretensiosa que nos faz lembrar o quanto os anos 90 foram influentes para o cinema – e para a comédia romântica. O que mais me chamou atenção para assistir ao filme, além da charmosa história e da incrível dupla de protagonistas, foi o nome de Nora Ephron na direção e de Rob Reiner (um de meus diretores favoritos) como um dos atores coadjuvantes. É nesses momentos que um fanático por romances clássicos, como eu, não poderia deixar passar essa rara oportunidade de conhecer um pouco mais sobre esse gênero tão significativo. A melhor parte, é que ao fim do filme, a satisfação foi garantida.

SINTONIA DE AMOR (1993)

O que está sempre presente e marcante durante o filme é a incrível trilha sonora, parcialmente composta pelo admirável Marc Shaiman e recheada de Jazz e Easy Listening, dando todo o clima emocionante e necessário para que o espectador se sinta dentro do enredo notavelmente bem desenvolvido. E é fantástico como a direção e o roteiro, acompanhados de atuações apaixonadas e sinceras, conseguem alcançar (senão ultrapassar) esse objetivo de maneira gratificante, tornando o filme no mínimo memorável em nossas mentes.

A base da história criada por Jeff Arch gira em torno de Sam Baldwin (Tom Hanks), um arquiteto que, viúvo há um ano e meio, não consegue esconder de seu pequeno filho Jonah (Ross Malinger) a tristeza pela qual está passando. Preocupado, Jonah participa de um programa de rádio chamado Sleepless in Seattle, por telefone, dizendo que gostaria de arrumar uma namorada para o pai. Muito longe dali está Annie Reed (Meg Ryan), que mesmo estando noiva e viajando de carro, ouve o desabafo de Sam e acaba se apaixonando por ele.

Não é sempre que nos deparamos com um filme como Sintonia de Amor, que embora seja pouco citado nos dias atuais, consegue trazer o que de melhor possui um forte romance que contém faíscas de drama e comédia ao longo de sua narrativa. Encantadora é um bom adjetivo para definir o desenrolar dessa história, que pode angustiar (intencionalmente) várias vezes o público apaixonado, porém sem perder sua essência sutil e ingênua. O que ajuda diretamente no medo e na esperança que o espectador sente durante o filme, são as características tentadoras dos protagonistas, que curiosamente não fogem muito dos modelos padrões de personagens interpretados por Tom Hanks e Meg Ryan, auxiliando bastante a aceitação e o compreendimento da plateia para com a abordagem da obra.

A atuação de Tom Hanks, mais uma vez, se mostra consistente e sedutora. O ator dá um show interpretando Sam, um triste homem que ignora as ações e sugestões de seu filho, mas que ainda reserva amor em seu machucado coração. Meg Ryan também vai muito bem representando Annie, uma mulher ansiosa e apaixonada, noiva e com uma bela vida, mas que sente a falta dos amores idealizados contidos em filmes de antigamente (o filme faz diversas referências com o clássico Tarde Demais Para Esquecer (1957), protagonizado por Cary Grant e Deborah Kerr).

Ao fim do filme, somos levados a nos perguntar sobre várias questões super válidas sobre o mundo atual e sua população cada vez mais desinteressada no amor verdadeiro. Conforme os anos passam, vemos a conscientização de que o amor representa muitas vezes a ausência da razão e a permanência da emoção. Mas o roteiro da também diretora, Nora Ephron, nos mostra através de grandiosos diálogos e olhares singelos, que ainda assim vale a pena não desistir de ser amado e amar alguém que possa se tornar especial aos seus olhos como ninguém.

Em uma das cenas do filme, a personagem de Meg Ryan, Annie, enquanto assiste seu filme favorito (já citado aqui anteriormente), diz uma frase para si mesmo: “Nessa época as pessoas sabiam amar.” Chega a ser cômico, pois se a personagem reclama do amor em 1993, pobre seria Annie se convivesse conosco, humanos arrogantes e simplistas do século XXI. Nós, raras pessoas apaixonadas, estaríamos errados em acreditar em almas gêmeas? Em um amor eterno como nos filmes? Esperança. Talvez seja isso que nos falte para que voltemos a ver o mundo com bons olhos, sem raiva ou intolerância. Se você, leitor, concorda comigo, convido-te a conferir esta bela obra com um lenço de papel ao seu lado.

Sintonia de Amor foi indicada ao Oscar em duas categorias: a de Melhor Roteiro Original, e a de Melhor Canção Original. Não levou nenhum dos dois para casa, mas o que realmente foi triste é ver que uma produção tão deslumbrante como essa, não é lembrada atualmente pelos cinéfilos. Talvez seja porque as comédias românticas não sejam mais tão valorizadas como na época dos clássicos de Woody Allen. Eu, apaixonado que sou, só posso torcer e esperar para que as pessoas voltem a enxergar a qualidade que existe em tais filmes, e que esses filmes as motivem a serem pessoas melhores.

João Pedro Accinelli

Amante do cinema desde a infância, encontrou sua paixão pelo horror durante a adolescência e até hoje se considera um aventureiro dos subgêneros. Formado em Cinema e Audiovisual, é idealizador do CurtaBR e co-fundador da 2Copos Produções. Redator do Cinematecando desde 2016, e do RdM desde 2019.

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