Um diretor e um filme: M. Night Shyamalan

Um diretor e um filme: M. Night Shyamalan

Se alguma vez me sentia mal, eu escrevia algo. É uma forma de escape.

Chegou a vez de um dos diretores mais criticados e ao mesmo tempo glorificados pelos famosos finais surpreendentes. Seus filmes construíram uma visão original e diferenciada de gêneros, em que busca não explorar tanto os efeitos especiais, mas sim focar em elementos da história e nas interpretações dos atores. M. Night Shyamalan é um produtor, diretor e roteirista que sabe exatamente como inovar tematicamente e atrair o público para suas obras, apesar de também possuir vários filmes considerados abaixo da média pelos críticos.

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Shyamalan nasceu em 6 de agosto de 1970 na Índia, mas logo na infância foi morar na Filadélfia. Pouco tempo depois, ganhou uma câmera aos seus 8 anos de idade, e foi quando sua paixão começou a surgir, inspirada intensamente em seu ídolo, Steven Spielberg. Seu primeiro filme data de 1992, chamado Praying With Anger, um drama familiar filmado na Índia, o qual Shyamalan também atua. Porém o começo de sua carreira nos Estados Unidos se deu no final do século XX, com o filme Olhos Abertos (1998), uma comédia dramática que conta a história de Joshua A. Beal (Joseph Cross), um garoto de 10 anos que vive na Filadélfia, estudante do 5º grau do Waldron Academy, um colégio católico para garotos. Apesar de uma vida tranquila com seus pais, ele procura entender o significado da vida e de Deus após a perda de seu avô (Robert Loggia), e sua busca o leva a diversas dificuldades emocionantes.

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Apesar de sua história tocante, o filme foi um fracasso de bilheteria. Mas isso não desmotivou Shyamalan, que levou aos espectadores no ano seguinte o que muitos consideram sua maior e mais conhecida obra: o famoso filme de horror psicológico chamado O Sexto Sentido (1999), que revolucionou o cinema da época por trazer uma espécie de terror misturado com drama que funciona bem em todas as cenas. É considerado um clássico dos últimos tempos e foi o único filme que rendeu ao cineasta indicações ao Oscar como melhor roteiro e melhor diretor.

Foi com esse filme que Shyamalan passou a fazer pequenas aparições em seus filmes, assim como fazia o mestre Hitchcock. A narrativa se baseia no psicólogo infantil Malcolm Crowe (Bruce Willis), que abraça com dedicação o caso de Cole Sear (Haley Joel Osment), um garoto de 8 anos que tem dificuldades de entrosamento no colégio e vive paralisado de medo. Malcolm, por sua vez, busca se recuperar de um trauma sofrido anos antes, quando um de seus pacientes se suicidou na sua frente. O diretor ainda viria a escrever no mesmo ano, o roteiro de Stuart Little, conhecida animação da década de 90.

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Após o sucesso de O Sexto Sentido, Shyamalan dominou os holofotes de Hollywood, estabelecendo uma grande expectativa do público em presenciar mais reviravoltas inesperadas no final de seus filmes, o que acabou ocasionando mais pra frente uma grande pressão sobre o diretor. Mas logo no começo do século XXI, Shyamalan criou uma média de produções, sendo 1 filme a cada 2 anos, e trouxe para as telas mais uma de suas famosas obras. Estou falando de Sinais (2002), um thriller de ficção científica contando com um elenco talentoso, procura abordar os alienígenas de uma maneira sutil e realista, tratando de toda tensão e suspense por trás das criaturas desconhecidas que tanto tememos.

O enredo é atraente e ocorre no condado de Bucks, Pensilvânia, onde vive Graham Hess (Mel Gibson), um viúvo que mora com seus dois filhos e seu irmão. Graham reside em uma fazenda e era o pastor da região, mas recusa ser chamado como padre, pois questionou sua fé desde quando sua mulher foi morta ao ser atropelada por um morador da região que dormiu enquanto dirigia. Repentinamente os Hess ficam bastante intrigados com o surgimento de misteriosos e gigantescos círculos, que surgem inesperadamente em sua plantação sem que haja o menor vestígio de quem os fez ou por qual motivo teriam sido feitos. Além de Mel Gibson, o filme ainda possui o talentoso Joaquin Phoenix como seu irmão, e os até então jovens Rory Culkin (Pânico 4) e Abigail Breslin (Pequena Miss Sunshine) como seus filhos.

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Depois de dois anos, Shyamalan lança um dos filmes mais reflexivos de sua filmografia: A Vila (2004), um s
uspense fantasioso que apesar de possuir críticas mistas de várias partes do mundo, querendo ou não é uma obra que sabe medir os receios de uma população isolada da cidade, suas preocupações e seus anseios por liberdade. É por meio de uma bela fotografia aliada a um figurino clássico que o roteiro intriga e promove questionamentos a qualquer espectador, que adentra no mundo dos personagens extremamente bem criados e da trama que é conduzida de forma peculiar. Neste filme, Shyamalan trabalha pela segunda vez com Phoenix.

A história parte de uma vila que parece ser o local ideal para viver: tranquila, isolada e com os moradores vivendo em harmonia. Porém este local perfeito passa por mudanças quando os habitantes descobrem que o bosque que o cerca esconde uma raça de misteriosas e perigosas criaturas, por eles chamados de “Aquelas de Quem Não Falamos”. O medo de ser a próxima vítima destas criaturas faz com que nenhum habitante da vila se arrisque a entrar no bosque. Apesar dos constantes avisos de Edward Walker (William Hurt), o líder local, e de sua mãe (Sigourney Weaver), o jovem Lucius Hunt (Joaquin Phoenix) tem um grande desejo de ultrapassar os limites da vida rumo ao desconhecido. Lucius é apaixonado por Ivy Walker (Bryce Dallas Howard), uma jovem cega que também atrai a atenção do desequilibrado Noah Percy (Adrien Brody), o que termina por colocar a vida de Ivy em perigo, fazendo com que verdades sejam reveladas e o caos tome conta da vila. Como de costume de Shyamalan, este é mais um filme que possui uma surpresa intensa guardada para o final, se tornando o momento mais marcante de toda a obra.

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Depois de um início de sua carreira promissor, infelizmente Shyamalan decepcionou em seus filmes seguintes, o que o fez perder muitos de seus fãs. Sua capacidade de criação passou a ser questionada após filmes de enredos patéticos como A Dama na Água (2006), Fim dos Tempos (2008), O Último Mestre do Ar (2010) e Depois da Terra (2013), que não conseguiram entreter o público nem com as cenas mais cheias de suspense. Outro fator que claramente influenciou seu declínio foi a forte cobrança dos fãs que esperavam outra obra tão fascinante como O Sexto Sentido, o que não aconteceu.

O filme mais recente do diretor foi A Visita (2015), um filme de terror mediano que alcança as expectativas do espectador com seus elementos detalhistas e característicos. No mesmo ano, Shyamalan também dirigiu o episódio piloto da série Wayward Pines, a qual também produz.

Depois desse panorama geral, finalmente precisamos falar do filme escolhido como especial para a sessão Um diretor e um filme, e desta vez, você pode pensar que tínhamos esquecido essa bela obra cinematográfica, mas garanto que não; guardamos ela para a melhor parte.

Enfim, Corpo Fechado, de 2000.

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De fato não é um filme muito citado quando se fala em super heróis, porém é um dos que mais abordam a verdadeira origem dos super heróis, os quadrinhos. Com uma perspectiva singular e completamente inovadora, Shyamalan traz sua visão do que é realmente um super herói, sem precisar de um super poder que se apoia em efeitos especiais exagerados como na maioria das produções hollywoodianas, mas sabendo lidar com o cotidiano e aprendendo a conviver com suas condições.

Tudo começa quando um espantoso desastre de trem choca os Estados Unidos. Todos os passageiros morrem, com exceção de David Dunne (Bruce Willis), que sai completamente ileso do acidente, para espanto dos médicos e de si mesmo. Buscando explicações sobre o ocorrido, ele encontra Elijah Price (Samuel L. Jackson), um estranho que apresenta uma explicação bizarra para o fato, perguntando-o quantas vezes ele já havia ficado doente em sua vida.

Apesar da sinopse simples, o filme é um verdadeiro prato cheio para quem gosta de super heróis tratados de forma realista. O roteiro conta com diálogos envolventes, que não apelam para o clichê, e a fotografia conta com cores frias que dão ao ambiente uma sensação depressiva, se assemelhando a do protagonista, que se vê intrigado com suas descobertas. Há também a direção concisa e clara, que auxilia na compreensão da história arrebatadora. Os atores conseguem transmitir todas emoções dos personagens com perfeição, e não permitem que o público se entedie com o desenrolar dos acontecimentos.

Para quem adora os finais surpreendentes de O Sexto Sentido e A Vila, essa é mais uma obra com uma resolução detonadora, que vai te fazer refletir e querer analisar o filme desde o começo novamente. O filme demonstra que a essência de um herói pode ser elaborada a partir do desconhecimento de seus poderes, e da descrença de sua existência especial num mundo corrupto e cheio de pessoas más. Imperdível para qualquer cinéfilo, e uma das maiores obras desse ótimo diretor e roteirista que pode voltar com tudo a qualquer momento.

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João Pedro Accinelli

Amante do cinema desde a infância, encontrou sua paixão pelo horror durante a adolescência e até hoje se considera um aventureiro dos subgêneros. Formado em Cinema e Audiovisual, é idealizador do CurtaBR e co-fundador da 2Copos Produções. Redator do Cinematecando desde 2016, e do RdM desde 2019.