Crítica: Christopher Robin – Um Reencontro Inesquecível
Ursinho Pooh vira embaixador do conceito de “ócio criativo” em filme no qual contracena com Ewan McGregor
Em dado momento de Christopher Robin – Um Reencontro Inesquecível, o Ursinho Pooh acorda diante de um Bosque dos Cem Acres coberto por névoa e de aspecto triste, cinzento e melancólico, bem ao contrário daquele lugar idílico onde ele e sua turma se acostumaram a viver altas aventuras. Tal cenário é uma extensão do estado de espírito atual de seu ex-melhor amigo, Christopher Robin (Ewan McGregor), antes um garoto cheio de energia e criatividade, agora adulto preso aos compromissos burocráticos de sua vida profissional.
Como qualquer fábula clássica, o novo filme da Disney tem sua moral da história muito clara: uma vida sem espaço para lazer é uma vida infeliz. Não é uma mensagem nova, mas é incrível perceber que todo mundo perde isto de vista de vez em quando.
Uma introdução que mistura ilustrações com imagens em live-action mostra como o personagem de McGregor teve seu caráter endurecido. A morte precoce do pai, a convocação para a Guerra e uma crise econômica que ameaça o deixar no olho da rua são alguns destes aspectos. Alguns irão chamar isso de “amadurecimento”, mas a negligência no trato da esposa (Haley Atwell) e filha (Bronte Carmichael) provam que não é bem assim… Reencontrar o velho ursinho de pelúcia falante pode ser a última coisa que ele quer, mas é justamente aquilo que precisa para voltar à sua identidade original.
O diretor Marc Forster já tinha tratado de algo parecido no drama indicado ao Oscar Em Busca da Terra do Nunca (2004), que trazia Johny Depp como o escritor J.M. Barrie, às voltas com o universo lúdico e infantil para lá encontrar a inspiração necessária para criar Peter Pan. Se, naquela trama, o enfoque era mais em como a sociedade percebia aquele artista de comportamento excêntrico, em Christopher Robin – Um Reencontro Inesquecível a abordagem é oposta: um homem “comum” que precisa redescobrir seu lado brincalhão para sorrir novamente. A intenção dos dois longas é a mesma. “Fazer coisa alguma normalmente leva aos melhores tipos de coisas”, é uma frase que poderia sair da boca do sociólogo italiano Domenico De Masi (autor do conceito de “ócio criativo”), porém soa muito mais fofa quando dita por Pooh.
Mas o leitor não pense que o filme se prende apenas aos aspectos filosóficos da questão humana. Pelo contrário, como programa para a família inteira a produção em alguns instantes se rende ao convencional. Quando tira Pooh, Tigrão, Leitão e o burro Ió (este com um aspecto assustadoramente depressivo em suas falas) de seu habitat natural e colocá-os em Londres, o roteiro utiliza a velha fórmula do choque de estrangeiros diante de uma nova realidade. No entanto, mesmo que se trate de uma artimanha batida, a turma é tão simpática que gera situações divertidas.
Embora eficiente, esta é a parte menos interessante do longa. Legal mesmo é ficar viajando nas diversas interpretações possíveis. Como fizeram os autores deste vídeo aqui, que faz um inusitado cruzamento de Christopher Robin – Um Reencontro Inesquecível com Trainspotting 2, a partir do personagem de McGregor:
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