Crítica: Dumplin’

Crítica: Dumplin’

Insegurança em sutilezas

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A obesidade já foi trabalhada no cinema de diferentes pontos de vista, e desde já é importante dizer que, o novo filme da Netflix, Dumplin’, não traz grandes mudanças e inovações em cima do que já estamos acostumados. Mas nós apresenta um recorte delicado contado através de um roteiro sutil, que coloca sua protagonista nas situações mais desgostosas possíveis, de maneira realista e facilmente identificável.

A história gira em torno de uma jovem chamada Willowdean Dickson (Danielle Macdonald), que sofre com a sua aparência principalmente através dos olhares externos. Há pouco tempo, ela perdeu sua tia Lucy, que foi quem praticamente quem a criou e a ensinou a gostar de si mesma. Agora, enquanto lida com sua mãe Rosie (Jennifer Aniston) que aparentemente não possui nada em comum com ela, Will (seu apelido) vive se divertindo com sua amiga Ellen (Odeya Rush), enfrentando valentões e buscando se amar, além de ser apaixonada por seu colega de trabalho, Bo (Luke Benward). Enquanto isso, Will passa a ter vontade de participar do concurso de beleza da cidade, como forma de protesto.

De cena em cena, vamos tendo certezas de como a aparência da protagonista a incomoda de uma maneira extremamente forte. Will se importa mais com seu peso do que seus verdadeiros amigos, que parecem estar sempre ali para apoiá-la quando precisa, diferentemente de sua mãe, que apesar de amá-la, tem problemas em imaginar sua filha em um cenário que não seja esquisito ou fora dos padrões de beleza. O que faz Will manter a cabeça no lugar e lutar contra sua baixa autoestima, são as lembranças de sua tia Lucy, uma mulher acima do peso que deixou para sua sobrinha o grande legado da importância de músicas da Dolly Parton, cantora na qual a protagonista é fissurada.

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O grande problema de Dumplin’ é que, embora o roteiro apresente boas chances de explorar seus personagens, ele acaba não os desenvolvendo de maneira convincente. Lucy é uma dessas. Por só aparecer poucas vezes (praticamente nas primeiras cenas) através dos flashbacks de Will, conseguimos entender a importância de sua tia na sua vida, mas não acompanhamos a relação das duas de forma constante e emocionante, algo que faz falta nas cenas de teor dramático.

Assim como Lucy, as motivações de Will não parecem ser suficiente para as atitudes tomadas pela protagonista, que muitas vezes parecem ter sido tiradas da cartola sem mais nem menos (literalmente), como seu desejo/gosto por mágica que só vamos conhecer durante sua apresentação, mas que além de não fazer diferença narrativa, não nos é mostrado durante o filme todo. Danielle Macdonald e Jennifer Aniston se saem bem, e ainda há participações bastante divertidas de ótimas atrizes coadjuvantes como Odeya Rush (de Lady Bird), Bex Taylor-Klaus (de Scream e Parque do Inferno) e Maddie Baillio.

Sem ousar em sua linguagem técnica e temática, Dumplin’ não atinge o esperado, mas também não decepciona por saber dosar cenas levemente cômica com a sutileza do drama, inserido de pouco em pouco na vivência da protagonista. Com uma habilidade notável em criar momentos desconfortáveis através de diálogos ou mesmo planos que expõem a falta de confiança de Will (e o reflexo que isso tem em todas suas relações), a obra agrada. É o acerto (mesmo que não dos grandes) da Netflix, se redimindo pela primeira temporada de Insatiable.

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João Pedro Accinelli

Amante do cinema desde a infância, encontrou sua paixão pelo horror durante a adolescência e até hoje se considera um aventureiro dos subgêneros. Formado em Cinema e Audiovisual, é idealizador do CurtaBR e co-fundador da 2Copos Produções. Redator do Cinematecando desde 2016, e do RdM desde 2019.