Crítica: Pantera Negra
Pantera Negra é o filme da Marvel mais “fora da curva” que você verá em 2018
E isso não é algo ruim! O 18º filme do Universo Cinematográfico Marvel é tudo aquilo que poderíamos esperar de um filme da Marvel… e muito mais. Ele consegue inovar mesmo com a narrativa familiar, excedendo os padrões pelos quais a Casa das Ideias se consagrou ao longo da última década.
T’Challa já havia sido apresentado para o mundo em Capitão América: Guerra Civil, e só sua breve e intensa participação já foi considerada inédita, visto que Capitão América, Homem de Ferro, Homem-Formiga, Thor e Hulk ganharam filmes-solo antes de integrar a grande equipe de super-heróis. Diferente de Doutor Estranho (que também ganhou filme solo antes e fez um cameo em Thor: Ragnarok), já tínhamos o gostinho do que o Pantera Negra seria na telona: um personagem cheio de classe, senso de justiça e presença. Muita presença. O Pantera de Chadwick Boseman esbanja tudo isso com desenvoltura, mas sua primeira aventura-solo também atesta que ele tem potencial de sobra para engatar mais histórias similares.
O filme se passa apenas uma semana após a morte do pai de T’Challa, ocorrida em Capitão América: Guerra Civil. Quando o protagonista volta para seu lar a fim de tornar-se Rei de Wakanda, o reaparecimento de um velho e esquecido inimigo ameaça abalar as estruturas de tudo o que o herói conhece. Não apenas envolvendo Wakanda como também o mundo todo, Pantera Negra precisa encontrar sua própria forma de governar e honrar o legado da família para não falhar nesta importante missão.
Pantera Negra não tem nada de igual ao filme anterior do Universo Marvel (no caso, Thor: Ragnarok). Não, o filme de Ryan Coogler (dos ótimos Creed e Fruitvale Station) faz tremendo sentido para uma história recheada de elementos fantasiosos – e dentro do Disney Studios, ainda por cima. O clichê da “história de origem” (afinal, o herói só se torna o Pantera Negra de fato neste filme), das viagens ao passado em busca do autoconhecimento e do duelo com o grande vilão da vez é praticamente anulado por diversos motivos que não rotulam seu filme como apenas “mais um filme de herói”. Estamos diante de uma obra que não será esquecida tão cedo. Agora, vamos aos tais motivos!
O elenco
Está certo que nomes como Chadwick Boseman, Michael B. Jordan, Lupita Nyong’o, Danai Gurira, Martin Freeman, Daniel Kaluuya, Angela Bassett, Forest Whitaker e Andy Serkis dificilmente fariam algum filme dar errado. Em casos de grandes elencos como este, o grande desafio está em fazer a química acontecer e equilibrar tanto carisma como presença.
Um dos maiores acertos de Pantera Negra cai justamente nesta parte, pois ele cuida com muito carinho de cada personagem a fim de apresentar cuidadosamente a intenção de cada um. Cada diálogo importa, cada olhar diz mais que o convencional. E se o filme é um pouco mais longo que o esperado, é exatamente para isso: para vermos o desenrolar dos relacionamentos ao redor de T’Challa, que moldam as ações e a visão do protagonista.
Pequenas surpresas ao longo do caminho, como Letitia Wright (irmã de T’Challa) e sua simpatia sem fim, fazem o filme fluir de maneira admirável. Assim como a própria Wakanda, é claro, que também se torna um personagem importante ao compor boa parte da narrativa e apresentar um novo mundo dentro da África, como um oásis no meio do deserto. As cores, a tecnologia e a cultura que permeiam o local são trabalhadas a cada detalhe, o que torna tudo ainda mais apaixonante.
A ação
Nesta parte, mais uma vez, a Marvel não decepciona. Pantera Negra está recheado de cenas de lutas bem coreografadas e, em particular, uma cena de perseguição e outra de ação realmente eletrizantes. A trilha sonora (que conta com Kendrick Lamar) é uma das responsáveis pela força da ação no filme, que mesmo com momentos de respiro, sempre impacta quando vem à tona. Chadwick Boseman e Michael B. Jordan se destacam nos duelos, enquanto a presença feminina determina o quanto a ação importa no todo. Sem as personagens de Lupita ou Gurira, o filme perderia boa parte de sua força (literalmente!).
A direção e o roteiro
Ryan Coogler se prova mais competente do que nunca em seu terceiro longa metragem. Ele balanceia o desenvolvimento do protagonista com questões que demandam atenção, principalmente por serem atuais e delicadas. A dose de representação que existe no filme é de emocionar qualquer um, seja com os detalhes da cultura africana, o figurino deslumbrante, os penteados ou as piadas (sempre com timing e impacto).
O roteiro foca em uma densa trama política e ao mesmo tempo consegue elaborar as motivações do vilão de B. Jordan de maneira crível e nivelada, o que acaba resultando em um dos melhores antagonistas deste Universo até agora. A questão social e política é inserida diretamente na vida e nas escolhas de T’Challa, que cresce e entende mais de si mesmo aos poucos. O passado e os ancestrais provenientes de Wakanda (curiosamente ressaltados no visual e na ideia do vilão) dão lugar a um cenário que não se vê mais na necessidade de criar barreiras, sejam elas literais ou não. O futuro, pelo menos até a Guerra Infinita, é próspero e otimista; e os heróis são cada vez mais reais.
A mensagem
Mais que um personagem icônico das histórias em quadrinhos, T’Challa representa o novo: a quebra de barreiras daquele mundo que existia em Os Vingadores, mas que agora encara novos horizontes desde o fim de Guerra Civil. O novo toma ainda mais forma em Pantera Negra, que transita, dentro de sua própria temática, na importância da união – esta sendo feita em todos os sentidos possíveis. O protagonista também vai descobrindo, aos poucos, que se abrir para o mundo é tão importante quanto se unir a ele. A vontade de conhecer o que o difere do restante para avaliar o que precisa ser feito é o gancho de desenvolvimento do personagem, que já havia sido elaborado para isso em Guerra Civil, mas que agora tem o passado, presente e também o futuro delineados para o público conhecê-lo mais a fundo.
Pantera Negra é um filme necessário e com identidade para dar e vender. Um verdadeiro deleite que alcança uma dose de realidade nunca antes vista dentro do Universo Marvel Cinematográfico.
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